É maravilhoso alguém que teve câncer e tem diabetes chegar aos 50 anos cada vez mais louco, cheio de vida, olhando o horizonte como se olhasse uma mulher nua, tomando vinho como se tomasse a própria vida nas mãos e soltasse e pegasse e embriagado pela vida caisse no signo do luar pranteando e prateando a escuridão.
Escrevo este texto olhando um agitado mar no Rio de Janeiro, num bairro chamado (esqueci o nome por alguns segundos, faltam goles e goles amém) Recreio, depois de ficar seis horas de pé na bienal e de caminhar uma hora na orla. Agora ouço Ella Fitzgerald e Duke Ellington num destes canais de música da NET. Amigos, show de bola.
Li Bandeira, Drummond, Fabrício Carpinejar, Menezes Y Morais e hoje não quero ler mais nada, quero viver, cada segundo, cada minuto, cada hora, cada dia, cada ano, cada meio século. Cassete, tenho meio século, é simplesmente incrível, mágico, incomensurável. Completo no dia 13 de setembro meio século de vida e o que sinto. Sinto vontade de comemorar com todos do mundo, sinto vontade de cantar, de tocar, de inovar no trabalho, de nunca parar de trabalhar.
Parabéns para mim, estou vivo e vivendo e não crítico mais ninguém e se sou criticado sigo meu caminho. Penso em ter vários blogs sobre diversos assuntos e prender a atenção de todos com textos belos, cada uma mais símbolo vivo do limbo, cada uma mais reluzente que o olhar mais pleno da mulher que sabe ser mulher e não se diz é segredo.
George Shearing agora na NET com “When I Fall in Love”. Quero morrer de amor pela vida, me entrega cada palmo, abraço, beijo à não tristeza. Passei dez anos da minha vida sem comemorar meu aniversário agora vou comemorar até morrer todos os anos e a comemoração não será só no dia 13 de setembro será durante todo o mês de setembro.
Lembro dos que já partiram, principalmente, dele Bhaskara Rao, lembro dos que está vivos, principalmente, dela Maria do Socorro, pai e mãe, eles me fizeram com seu amor, um penetrando no outro e o faro mais louco e atemporal dos signos dos corpos gerou quem eu e quem serei.
Ah... Música... Tú não me escapas. Nos meus cinquenta anos tú és minha casa, o meu norte, o meu mêdo, a minha sorte, meu azar, minha pele, meu sexo, minha falta de nexo, és tudo. Música, linda música, que ouço e que faz com que eu agora, me emocione, e pelos cílios dos meus olhos lágrimas teçam perfis na minha camisa, perfis molhados, desnudos, enfim, perfis de lágrimas.
Cinquenta anos que vou comemorar como quem comemora a própria arte todo dia, e vou comemorar sim, como que conserva dentro de si a vontade de sempre ser bom para todos, independentes de credo, raça e cor, e quando discordar, me calar, e quando concordar, gritar como um menino. Por sinal, sinto-me cada vez mais maduro, adolescente, criança. Sinto-me cada mais um pedaço de papel a ser escrito ou apagado, um todo a ser descoberto, uma parte por descobrir ou então o que já foi descoberto por sonhar.
É lindo fazer cinquenta anos, eu que enfrentei quimioterapia e o cabelo caiu e fiquei com medo de morrer e não podia apagar a luz do quarto. Eu quase morri, meu Deus, eu quase morri e estou mais vivo do que nunca, digitando como se tocasse um piano a la “Oscar Peterson” e ninguém mais vai me podar. Vou rasgar minhas roupas quando quiser, ficar nú e assustar a todos pois, sou extremamente barrigudo mas, vou me entregar de corpo e alma à vida.
Chegou a hora de escrever meus pensamentos com as estrelas no céu. Pegar flocos de nunvens e me deitar. Perdoar os inimigos, é isso aí, meus inimigos eu não tenho mais tempo para rancor, vocês todos estão perdoados e não se fala mais nisso. E escrever, escrever sem parar, até a mão ter caimbra.
Parabéns para mim, neste mês tão querido, muitas felicidades, muitos anos de vida, muitos signos no olhar, sonhos, simples magias, muita vida além mar, tempo, espera, poesia.
Pirem, pois, eu pirei de vez e não vou mais voltar.
Amo vocês.
Anand Rao
(não fiz revisão, os erros têm que permanecer para que eu possa acertar, se eu quiser é claro.)
